O Amapá chora
À luz de velas
Que escorrendo
A transluzente parafina
Quente
Arde em chamas
A floresta
Rubra
Encandescente
Choram no Pantanal
As onças
E as pessoas
Na beira do caos
Como em Minas
Escorre a lama
Em Brumadinho
E Mariana
Sobre quilombos
Mananciais
Invadindo os rios
Chegando às praias
Do Espírito Santo
Matando os peixes
E os manguezais
E no nordeste
O verde-mar
Se transforma
Em preto-óleo
Nas pedras e na areia
Antes branca
Antes sal
Se tudo isso não bastasse
Vivemos em pandemia
De vírus
De ódio
De descaso
De desrespeito
De violência
Mataram mais um preto
Não foi na favela
Não foi por petróleo
Não foi por terra
Não foi por riqueza
Foi porque era
Preto
João Alberto
Esse era o seu nome
Não foi escrito na lápide
Cidadão de bens
Não saiu nota de repúdio
Ainda bem
Sairá o povo
Nas ruas
Deixará de ser
Refém
E cobrará justiça
E choraremos
As vítimas
Mas Racistas não passarão
É tempo de tumulto
De fogo contra fogo
De chamamento
De combate
Nossos eleitos
Estarão nos campos
Onde a luta se desenrola
Nas cidades
Onde crianças nas ruas
Pedem esmolas
Onde mulheres
gays
Lésbicas
Indígenas
Nordestinos
Pretos
Pobres e
Periféricos
Sofrem
Jogad@s
Abandonad@s
Violentad@s
Humilhad@s e
Esquecid@s
Viemos com a tempestade
Só sairemos com a calmaria
Aquela que propomos
Onde culpados pagarão
Seus crimes
Onde crianças crescerão
Florestas e
Animais se espalharão
E a luz voltará
Dentro e fora de nós.
Cícero Che