Não existe luta antirracista e revolucionária se não é contrária ao grande capital, que gera as desigualdades sociais e é um campo fértil para os esquemas de cooptação e corrupção que permeiam os diversos setores dos movimentos sociais e fileiras partidárias. Os lutadores e lutadoras terão que superar estes obstáculos buscando o autofinanciamento, construindo o projeto de mandato socialista.

É notório que o cenário sociopolítico brasileiro está permeado de acordos espúrios, com superfaturamento de contratos e favorecimento de grupos econômicos e políticos que se apropriam dos recursos públicos em detrimento da população, principalmente a mais pobre, de periferia, composta majoritariamente por negras e negros.

O financiamento de candidaturas por grandes empresários, corporações transnacionais, empreiteiras, latifúndios, bancos e outras instituições financeiras nacionais e/ou estrangeiras tem como objetivo exercer influência direta sobre os eleitos e eleitas, uma prática da velha política do toma lá dá cá. A recente história de corrupção neste país prova que investem nas campanhas para depois cobrarem a conta:

O avanço conservador de extrema direita, pautado no autoritarismo e no fundamentalismo religioso, na prática de políticas irracionais e de disseminação do ódio, tem imposto à sociedade uma série de perdas de direitos arduamente conquistados pelos lutadores e lutadoras ao longo dos tempos. E tem causando insegurança, medo, fome e morte; sendo que as pessoas mais atingidas são as que durante séculos têm sido colocadas à margem desta sociedade, marcada por um sistema de segregação. São os negros, negras e povos originários, que já sofreram as piores degradações que podem ser aplicadas a um ser humano. Que têm a sua existência marcada por um processo permanente de limpeza étnica e de negação de sua história, de suas raízes e culturas.

Portanto, lutamos para que haja efetivamente um avanço político no PSOL, que mude a atual política de distribuição do Fundo Eleitoral, que atenda a princípios socialistas, assegurando aos setores historicamente marginalizados tratamento igualitário nos direitos, ainda que aplicado proporcionalmente. É a única forma de eliminar as desigualdades existentes nos financiamentos de campanha.

Por concepção e princípio defendemos o estatuto do PSOL que afirma que não serão aceitas contribuições e doações financeiras oriundas do grande empresariado ou setores ligados às instituições financeiras. É uma escolha que o PSOL terá que fazer:  aplicar incondicionalmente seu estatuto ou em breve estará no mesmo patamar dos partidos da ordem, que se locupletam com esses favorecimentos, mantendo o círculo vicioso de dependência.

Como militantes da causa socialista e antirracista é nosso dever lutar sem tréguas contra a política neoliberal, reformista, capitalista e de submissão ao grande capital financeiro nacional e estrangeiro, apresentando e defendendo um programa revolucionário que nos leve a uma sociedade justa e humana.

Ressaltamos que o debate aberto publicamente em relação ao filiado do PSOL, Wesley Teixeira, candidato à câmara de vereadores de Duque de Caxias, tem relação direta com financiamento de campanha. Compreendemos que erros do passado quando candidaturas receberam doações de empresas como a Gerdau e a Natura não podem ser usados para justificar os do presente.

Wesley, ao aceitar contribuição financeira de setores ligados ao mercado financeiro, que são inimigos de classe e os principais protagonistas das políticas de exclusão, espoliação do povo brasileiro, saque das riquezas naturais e financeiras do nosso país, presta um desserviço ao PSOL como partido socialista e independente e dá um péssimo exemplo para os movimentos sociais.

O PSOL nasceu rompendo com a lógica de subserviência aos programas e partidos que mantém o sistema capitalista, um sistema de exploração e opressão, racista, machista, homofóbico e, portanto, profundamente excludente.

Portanto, não se deve falsear o debate. Não há ataque do PSOL ou de qualquer uma de suas correntes ao militante negro de Duque de Caxias. O que se exige é o respeito ao Estatuto do PSOL, que em seu artigo 71, parágrafo único, estabelece que “não serão aceitas contribuições e doações financeiras provindas, direta ou indiretamente, de empresas multinacionais, de empreiteiras e de bancos ou instituições financeiras nacionais e/ou estrangeiros”.

Ademais, devemos nos perguntar, qual o real interesse desses representantes do capital financeiro em fazer doações para um candidato do PSOL?  Não podemos aceitar mais esse ataque ao nosso partido e à sua militância.

Que Wesley reflita à luz das deliberações do Psol e devolva as doações feitas. O processo eleitoral faz parte de nossa disputa na sociedade de um projeto calcado na justiça social para população negra, indígena, LGBTQI, idosa e de todos os setores oprimidos. Esse projeto é necessariamente antirracista, anticapitalista e socialista.

E que as candidaturas e os mandatos do PSOL nas diversas esferas sejam pautados por um projeto de Mandato Socialista para que todos e todas tenham o mesmo tratamento e as mesmas condições de fortalecer a luta pela disputa de corações e mentes da classe trabalhadora e da população brasileira em geral.

Disputamos um projeto Socialista e Libertário tanto nos diversos movimentos sociais quanto nos espaços institucionais.

“Disseram que nós não chegaríamos aqui. E houve quem dissesse que nós só chegaríamos aqui por cima dos seus cadáveres. Mas o mundo inteiro hoje sabe que nós estamos aqui e que estamos de pé diante das forças do poder no estado do Alabama, dizendo: Não vamos deixar ninguém nos fazer voltar para trás”.

 Martin Luther King Jr.

Essa afirmação significa dizer que não podemos aceitar sermos subjugados pelas forças do Estado Opressor, racista que continua tentando nos dominar usando seu poderio econômico.