Apresentação do artigo do professor Eddy Jiménez sobre a Venezuela
Solicitamos que leiam e compartilhem esse importante artigo de Eddy Jiménez, professor, jornalista e escritor cubano, sobre a Venezuela.
Diante da grave situação em que vive esse país irmão, com riqueza de detalhes ele aborda o que ocorre naquele país. Mostra para a opinião pública que a realidade é totalmente distorcida pela “grande imprensa”.E trata sobre a denominada guerra de quarta geração ou guerra não convencional , cujas principais ferramentas são “o terrorismo, para fazer crer que existe uma revolta popular, e a guerra midiática, para confundir, para captar simpatias a favor da derrubada do governo bolivariano e com tudo isso, propiciar uma intervenção estrangeira”.
As declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nessa sexta-feira, 11 de agosto de 2017, nos seguintes termos: “Temos muitas opções para a Venezuela, incluindo uma possível opção militar se for necessário” só demonstram o quão correta é a análise do autor.
Na Venezuela de hoje se decide o futuro de Nossa América (I Parte)
Em 2016, o imperialismo e as oligarquias da área acreditavam ter chegado o momento adequado para destruir a Revolução Bolivariana: o momento se lhes apresentava adequado para esse fim: o preço do petróleo, principal produto de exportação da Venezuela extremamente baixo; a assembleia legislativa nas mãos de uma oposição que só trabalha para tentar constituir outro Estado paralelo; no contexto sulamericano uma Argentina e um Brasil ganhos já por completo pela ultradireita neoliberal, o que pôs fim momentâneo à tentativa da Venezuela para ultrapassar a fronteira econômica do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) para também torná-lo um modelo de integração social.
Embora fosse verdade que nada de novo ensaiaram para alcançar esse fim, porque este processo revolucionário tem sido sitiado e atacado desde o nascimento, por isso é que nunca antes tantos fatores resultaram adversos ao processo revolucionário que ocorre naquele país.
Internamente, separadamente, nenhum desses fatores geralmente levam à queda de um governo; em última análise, a crise econômica pela queda dos preços das matérias-primas prejudica toda a área e exemplos de presidentes no poder com uma minoria em seus parlamentos são abundantes em todo o continente. No entanto, a verdade é que o uso oportunista destas adversidades pela extrema-direita está a ameaçar o processo bolivariano e com ele todo o movimento progressista latinoamericano e caribenho.
Não é exagero afirmar que hoje na Venezuela está em jogo, a curto e médio prazo, o futuro de toda Nossa América e que um novo Plano Condor voa sobre as cabeças daqueles que vivem ao sul do Rio Bravo. Lembre-se que com um parlamento oposicionista e uma economia feridos pelos ataques do imperialismo e da oligarquia foi preparado e executado no Chile, o golpe de estado contra Salvador Allende, que iniciou um período de luto e terror em toda a área.Se até agora a extrema-direita não atingiu os seus objectivos na Venezuela, é devido ao apoio popular à Revolução Bolivariana, liderada neste momento por Nicolás Maduro, e a união civil-militar que permitiu que o respeito irrestrito à constitucionalidade e tenha abortado tentativas de golpe dentro das forças armadas; vale recordar que o processo bolivariano surge precisamente dentro das organizações militares, seu pai foi Hugo Chávez e uma nova doutrina militar, progressista e constitucionalista, foi incutida por ele desde sua chegada ao governo.
Não vamos nos referir, nesta edição, aos planos que no campo internacional o imperialismo usa para tentar pôr fim à retomada da expansão do ideário progressista, que teve a sua gênese e principal referência na Venezuela. Estes planos colocados em prática como uma forma de isolar a Revolução Bolivariana e tentar no futuro “legalizar” a intervenção imperialista analisaremos no próximo editorial.
Preferimos, ante a grave situação que hoje vive o país irmão e a necessidade de esclarecer a opinião pública sobre o que acontece lá – realidade totalmente distorcida pela “grande imprensa” – abordar a questão da chamada guerra de quarta geração ou guerra não convencional – de acordo com o nome com que a batizam os teóricos – que tem como principais ferramentas o terrorismo, para fazer crer que existe uma revolta popular, e a guerra midiática, para confundir, para captar simpatias a favor da derrubada do governo bolivariano e com tudo isso, propiciar uma intervenção estrangeira.
Em uma evidente tentativa de fazer crer que existe na Venezuela uma terrível repressão, todos os dias lemos na “grande imprensa” sobre o aumento do número de mortes nos “protestos” contra o governo de Nicolás Maduro. Não é dito que a maioria dos mortos não tinha nada a ver com os chamados “protestos”. Quando em 20 de maio passado observamos as imagens de vídeo que mostram o jovem esfaqueado, Orlando Figuera, 21, convertido em “pacífico manifestante” com uma tocha correndo desesperadamente pela rua em busca de trocar suas roupas, pensamos erroneamente que a partir desse trágico momento ficaria revelada a verdade sobre quem exerce terror naquele país. Dias depois, em 4 de junho, depois de uma agonia prolongada e apesar de todos os esforços médicos, morreu Figuera, sem saber por quê; simplesmente, enquanto transitava perto dos “manifestantes pacíficos”, alguém gritou que era um chavista, o que desencadeou o martírio.
A prática de queimar os cidadãos comuns vivos, a fim de criar terror, não começou com Figuera e nem tão pouco terminou com sua morte, somente foi esse o caso mais conhecido porque foi gravado e não pode ser tergiversado.
Dois dias antes, em 18 de maio, também foi esfaqueado e queimado o jovem Carlos Ramírez, supostamente por ser chavista; na cidade de Barquisimeto, em 29 de junho, foram queimados os jovens Henry Escalona e Wladimir Peña de 21 e 27 anos, respectivamente, por identificar-se como chavistas. O jovem de 24 anos, Giovanny González foi vítima de homens encapuzados que o queimaram e esfaquearam em 26 de junho, ao confundir-lhe com um “chavista”; e em julho deste ano, especificamente no dia 2, na cidade de Maracaibo, dois jovens (ainda desconheço os seus nomes), um que viajava em uma moto e outro que trabalhava transportando legumes, foram interceptados por “manifestantes pacíficos” e queimados vivos. Estas sete tochas humanas – para além da ideologia que tivessem são verdadeiros mártires – são contabilizados pela “grande imprensa” entre as mortes por protestos contra o governo de Nicolás Maduro.Desde que no mes de abril se iniciaram os “protestos pacíficos” dos “lutadores pela democracia” contra o “ditadura de Maduro” (segundo os termos usados pela “grande mídia”) na lista de mortes se encontram desde comerciantes que protegiam seus negócios dos assaltos das gangues criminosas (como foi o caso de Javier Antonio Velázquez), passando por pessoas assassinadas por atravessar barricadas da oposição (a citação: Efraín Sierra e Óliver Villa), até meros espectadores. Também nessa macabra estatística, porém vítimas de outros métodos de assassinato, pode citar-se Gerardo José Alonso Barrera (38), Jorge David Escandón (37), Endy Daniel Flores Moreno (24) e Beyci Carolina Sanchez (21); como os membros da Guarda Nacional: Sargento Neumar Sanclemente (28), tenente aposentado Danny Subero (34) e Sargento Ronny Parra (27 anos).De fato, entre os mais de noventa falecidos são citadas apenas seis que supostamente foram mortos por disparos das forças de segurança, o que levou à prisão de mais de 20 uniformizados e digo supostamente porque foi provado (segundo declarações de detidos) que, a fim de acirrar os ânimos e responsabilizar as autoridades, alguns líderes de gangues criminosas tem “sacrificado” subordinados.
Nesta guerra midiática contra a Revolução Bolivariana se apresentam subliminarmente todos os mortos e feridos – que certamente passam de 1500 – como vítimas do governo quando na verdade possivelmente a maioria eram simpatizantes chavistas ou simples inimigos da violência. Constantemente a ditadura midiática mundial propaga a matriz de opinião de que o governo venezuelano exerce uma brutal repressão contra o povo; como é lógico omitem a existência de uma ordem presidencial que impede a utilização de armas letais por parte dos órgãos responsáveis por controlar as manifestações, ainda quando de pacífica não tenha um fio de cabelo. É o caso, inclusive, da base aérea Generalíssimo Francisco de Miranda ter permanecido sob cerco durante dias por ataques de grupos de “manifestantes pacíficos”, a maioria mascarados, sem que estes fossem repelidos com armas, a fim de evitar os trágicos acontecimentos que tentam provocar.
Por certo, salta aos olhos como estes “manifestantes pacíficos” campeiam pelas ruas armados com todo o necessário para proteger-se – modernas câmeras antigases, coletes à prova de balas etc. – e gerar violência. É público que só neste ano 2017 o governo dos Estados Unidos tem dado à “oposição pacífica” 5,5 milhões de dólares para defender “as práticas democráticas, instituições e valores que apoiam os direitos humanos”; o imperialismo se encarrega de que nada falte a estes “lutadores pela democracia”.Nada comentou a “grande imprensa” sobre o ataque que sofreu em 20 de abril o Hospital Materno-Infantil “Hugo Chávez”, na localidade de El Valle, que pôs em perigo a vida de dezenas de mulheres e crianças. Como tão pouco, dias depois, a tentativa de incendiar uma escola primária.
Da mesma forma, a “grande imprensa” não relata a utilização de adolescentes e até crianças por parte destes “lutadores pela democracia”, no afã de provocar o caos. Tão escandalosa tem sido essa prática que até o presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) – por certo, organismo em nada afim da Revolução Bolivariana – Francisco Eguiguren, se viu obrigado a declarar recentemente em uma reunião realizada em princípios deste mês, em Lima, Peru, que: “Às organizações que realizam protestos, enfatizo que estas devem ser estritamente pacíficas e que não podem promover, incentivar a participação de crianças e adolescentes neste tipo de atos, portanto, há também uma responsabilidade de quem envolve crianças em protestos ou as põe em risco ao fazê-los participar”.
A entrega de drogas para jovens participantes nos “protestos pacíficos”, a maioria deles pagos ou atraídos por falsas promessas; a entrada no país dessas drogas, de território colombiano, incluindo a denominada Captagon ou “droga jihadista” por ser utilizada na Síria e Iraque pelo denominado Estado Islâmico; o apoio de todo tipo que recebem os grupos paramilitares-mafiosos venezuelanos por parte de seus homólogos colombianos, com a pouco dissimulada complacência das autoridades desse país …; nenhum deles é digno de ser devidamente informado.
Quando em 27 junho o terrorista Óscar Pérez, que se intitula “guerreiro de Deus” sequestrou um helicóptero a partir do qual ele jogou granadas e efetuou disparos contra os edifícios do Supremo Tribunal de Justiça e do Ministério do Poder Popular para as Relações Interiores, Justiça e Paz, nesse último edifício – que foi atingido por 15 tiros – se encontravam reunidas cerca de 80 pessoas, que por ocasião do Dia Nacional do Jornalista festejavam com um grupo de comunicadores. Nem sequer por solidariedade profissional se fez sentir a condenação da imprensa diante de um ato terrorista que colocou em risco a vida dos trabalhadores da corporação.
Tão explícito é o casamento entre setores da imprensa nacional (majoritariamente oposicionista) e estrangeira com os grupos terroristas que estes, antes de cometer seus atos lhes avisam para que eles possam gravá-los. Tal foi o caso de uma bomba detonada na passagem de uma caravana de motos da Guarda Nacional, em Caracas, em 11 de junho, com um saldo de 7 soldados e 2 civis feridos; “Coincidentemente” se encontravam no lugar, filmando – também “coincidentemente” – um numeroso grupo de jornalistas.
Ao longo do ano passado e até o presente, o governo bolivariano tem tentado, inclusive, através de renomadas figuras internacionais, que a chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), se sente para negociar sua participação nas verdadeiras saídas democráticas que a Constituição venezuelana estabelece. O governo de Nicolás Maduro tornou público uma e outra vez, que no próximo dia 10 de dezembro serão realizadas eleições para eleger os 23 governadores e governadoras dos estados e no próximo ano se efetuarão as eleições presidenciais (em ambos casos no tempo e na forma estabelecida pelas leis vigentes).
De nada tem servido a paciência do governo: nem conversas sérias, nem participação nos processos eleitorais; na prática, a MUD só aceita a entrega do poder e o fim da Revolução Bolivariana. Para tanto a oposição vinha exigindo desde 2013 para revogar a Magna Carta de 1999, classificada por eles como chavista, e pedindo uma nova Assembléia Constituinte.
Diante de tal intransigência, o governo bolivariano tomou a decisão valente e arriscada de convocar uma Assembléia Constituinte em meio à morte, o terror, a sabotagem e a destruição, tudo isto orquestrado pelos grupos paramilitares- gangsters financiados pelo imperialismo e a extrema direita sulamericana, não só a venezuelana.
Embora desde o primeiro momento a MUD tenha sido convidada para as reuniões da Comissão Presidencial que elaboraria as bases do processo constituinte, sua recusa em participar e a desaprovação à convocatória foi imediata. Os mesmos que até então exigiam a convocação de uma Assembléia Constituinte, transformaram-se agora, demagogicamente, em “defensores” da Constituição de 1999, que anteriormente atacavam.
O que realmente acontece é que a constituinte segundo o que aspira a MUD devia sair das cúpulas de poder e não das bases, de onde eles não conseguirão nunca fazer política, pois não têm prestígio. Com sua negativa a MUD e seus partidos ultradireitistas se distanciaram cada vez mais do caminho político e, assim deixaram amplo espaço aberto para o poder originário.
Embora eu esteja convencido de que do fascismo não só com leis se se livra, também o estou de que este é um caminho válido e verdadeiramente democrático para aprofundar o processo revolucionário bolivariano. Creio também que essa estratégia já estava embaralhada por Hugo Chávez quando na posse de seu segundo mandato, em 2007, declarou: “Não, o poder constituinte não pode congelar-se, não pode ser congelado pelo poder constituído. […] Alguns autores falam do caráter terrível do Poder Constituinte. Eu acho que é terrível o Poder Constituinte, mas assim o necessitamos, terrível, complexo, rebelde. Não deve submeter-se o Poder Constituinte […], o Poder Constituinte é e deve ser compatriotas – potência permanente, potência transformadora, injeção revolucionária para reativar, de vez em quando, nosso processo bolivariano”.
Até o momento tem inscritas 6.120 candidaturas. Em 23 de julho foram escolhidos em assembléias 08 deputados eleitos entre os povos indígenas e a 30 deste mesmo mês os 537 restantes, para um total de 545 deputados e deputadas constituintes: 08 indígenas, 173 setoriais (trabalhadores, empresários, estudantes, membros da comunidade, agricultores, pensionistas, deficientes, pescadores) e 364 territorial (1 por município, 2 por capitais de estado e 7 pela Capital).
Em meio a essas lutas, uma nova frente de batalha foi aberta com a traição óbvia da Procuradora Geral da Venezuela, Luisa Ortega; a mesma que quando os motins de 2014, causaram então 43 mortes, mostrou sua eficiência no julgamento dos assassinos e criminosos, incluindo um de seus principais líderes, Leopoldo López, agora usa o poder de seu cargo para obstruir investigações e processos, enquanto posa com os opositores, se encontra com seus dirigentes e, com sua demagogia, se faz defensora intransigente da Constituição de 1999, que segundo ela não se deve reformar porque é perfeita.
Se porque há muito dinheiro para comprar consciências ou porque em sua vaidade se vê como uma possível alternativa de poder, a Luisa Ortega não pode ser classificada como desertora, como é tratada pela “grande imprensa”. A posição por ela assumida tem outro nome: traição.
Toda essa trama mafiosa, esta guerra de quarta geração, esta guerra não convencional, ou como se queira chamá-la, é criada para gerar um clima de ingovernabilidade com o fim de justificar uma intervenção estrangeira, dada a impossibilidade de tomar o poder através de um golpe militar – até agora a reação tem fracassado em seu intento -, ou de ganhar eleições, pois a oposição está dividida, seus dirigentes enfermos de mesquinhas ambições e desprestigiados ante um povo que os vê como oportunistas e assassinos.
Um de seus dirigentes, o deputado opositor, pelo partido ultradireitista Primero Justicia, Juan Requesens não andou com ambiguidades, quando em 05 de julho, disse na Universidade Internacional da Flórida (patrocinado pelo Comando Sul dos EUA) que: “Para chegar a uma intervenção estrangeira teremos que passar esta etapa”.
Depois de revelar que a oposição discute um plano para paralisar totalmente o país, Requesens foi enfático em afirmar: “Empresa que não pare, que seus trabalhadores não vão e se querem ir os trabalhadores a trabalhar e sua empresa está trancada e não chegam. Isso tem seus prós e seus contras. Algumas pessoas se chateiam, porém senhores em 16 de julho faltariam 14 dias para a constituinte e já não temos nada a perder. ”
Esse mesmo deputado fascista declarou ao jornal miamense El Nuevo Herald, que faz parte desse plano dificultar as vias de distribuição de alimentos.
É imprescindível, quando claramente na Venezuela já se vê as garras do fascismo, não se deixar confundir pela ditadura midiática e levantar um muro de solidariedade em torno da Revolução Bolivariana. Da mesma forma que no século XIX os exércitos de Bolívar abriram na América do Sul o caminho para a primeira independência, neste século coube a Chávez iniciar a segunda e definitiva independência. Não os deixemos sós!
Ao povo venezuelano, humildemente aconselhamos que estejam atentos, que recordem que o imperialismo busca desesperadamente buscando um novo Pinochet e lhes recordamos que são válidos aqueles versos do grande César Vallejo quando cantou para os espanhóis:
Cuidado, Espanha, com tua própria Espanha!
Cuidado com a foice sem o martelo,
Cuidado com o martelo sem a foice!